segunda-feira, outubro 29, 2007

Angel’s tale


O calor e a luz do sol me incomodam, estamos ali, na frente de batalha, de um lado nós o exercito de Deus, do outro o Rei da Pérsia, aquele por quem um dia fui regido. Até hoje me pergunto como ele foi tão idiota. Ainda bem que nunca dei ouvido as suas lorotas.

Estamos imóveis a um tempão, e nada de ninguém atacar, isso me deixa agoniado. Gabriel fica impassível de quaisquer movimentos, e o líder inimigo continua esperando nossa movimentação, incrível como apesar de rebeldes eles são tão obedientes. Da pra ver em suas caras obscuras uma tremenda vontade de atacar, alguns deles ainda esboçam movimentos de avanço, mas líder inimigo os repreende apenas com um olhar, e eles recuam. De longe parecem uma massa disforme e negra de maldade e trevas. Por de trás da infantaria, posso ver aqueles que um dia andaram na presença do Altíssimo, mas preferiram ser feitos espíritos imundos.

De um lado do vale nós, do outro eles, e no meio um pequeno bosque de poucas arvores e um pequenino charco lodoso. O sol se levanta ignorando a nossa presença, e as nuvens vão se dissipando dando espaço para que a luz entre.

No momento em que a luz adentra o vale, o líder inimigo, se desgruda da massa de macula e ódio, e avança até o meio do vale. Gabriel se mantém imóvel. Isso me preocupa e tranqüiliza. Vamos Gabriel faça algo! A coisa se locomove como nós, mas não é como nós. Se parece conosco, mas não é como nós. Ele é negro e toda rebeldia é contida nele. É maior do que nós e tem asas negras e despenadas, como se inundadas em óleo negro e queimado, seu peito é nu e nele a marca é estampada como um símbolo de sua imperfeição. Que ironia, aquele que foi criado para ser o contrário de tudo o que se transformou, de tudo o que cavou, mas a rebeldia foi sua ruína e Deus seu juiz. Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. Felizmente ele pagou pelo que fez!

Trazia consigo uma espada, serrilhada e chanfrada, que era arrastada pelo chão deixando um fogo negro e terrível. Em sua boca podíamos decifrar as palavras de maldição que pronunciava contra nós. Seu ardor e fúria são tão fortes que seus aliados se prostraram diante dele e ele disse a Gabriel:

—Gabriel! GABRIEL seu idiota covarde, não vai se mexer? Cachorrinho do papai é o que você é! Eu cuspo diante d’Ele e de você!

Nesse momento de sua boca foi expelido um homúnculo, uma criatura humanóide de aparência demoníaca, que rastejava pelo chão e clamava por misericórdia. Mas insanamente, ele a destruiu com sua espada.

Gabriel apenas disse:

—Que o Senhor te repreenda Baal, não tens tu mais nenhum poder sobre nós ou sobre homens, pelo nome poderoso do Cristo eu te repreendo! Deixe-nos passar!

Então ele recolheu suas asas e contraindo sua massa espiritual e urrou como uma besta: — Não!

Foi então que Gabriel mandou que atacássemos, pois o Senhor é conosco!

Arqueamos nossas asas e bradamos em nome do Senhor dos Exércitos. Nossas armas espirituais foram conjuradas por Gabriel naquele momento.

Descemos pela curta colina que levava até a entrada do vale. Enquanto isso os arqueiros se preparavam para o ataque, a infantaria demoníaca avançava desenfreadamente pelo charco, quando o capitão de cem deu a primeira ordem: — Arqueiros! Ataquem!

Logo após do primeiro choque surdo e doloroso de nossas infantarias, nós que estávamos um pouco atrás, podemos reparar nas flechas que passavam sobre nós, zumbindo e voando como o vento na direção do inimigo.

As infantarias logo se misturaram e se embrenharam numa luta feroz e brutal. Talvez a mais bruta que já presenciei. A covardia era um ponto alto no exercito deles, dois ou três atacavam o mesmo anjo sem qualquer piedade ou honra. Mas sobre o alto comando de Gabriel eles eram incentivados a dar o melhor de si para o Senhor.

O barulho de lanças se chocando e de espadas sendo brandidas e machados se chocando me ensurdeceram por um tempo. Via meus amigos serem mais guerreiros do que em suas palavras, com movimentos rápidos e um pensamento sagaz eles pareciam ter mais de dois braços. Seus ataques eram precisos e mortais. Mas os inimigos nunca se davam por vencidos, até por que, seu capitão ainda não havia entrado na batalha...

As tropas iam se misturando e adentrando-se uma nas outras e minha vez estava chegando. Passei a frente dos arqueiros e logo já estava diante de onde a batalha estourara. Foi quando escutei de meu capitão de mil: — Dêem a volta pelo flanco esquerdo precisamos ganhar terreno, eles são muitos. Se for preciso voem, mas cuidado com ataques aéreos!

A passagem estava muito tumultuada e parte do meu esquadrão resolveu voar, e eu também. Infeliz idéia... Bolas de fogo verdes enegrecidas rondavam o ar em busca de nós. O rei persa sabia que iríamos voar e nos deixou um presentinho. Tivemos de fazer muitas manobras evasivas e alguns de nós fomos atingidos, isso atrasou nossa estratégia, acabamos ficando encurralados num paredão de rocha, agora sei porque ele quis nos prender aqui. O que será de Daniel...

Gabriel estava batalhando como nunca, via-se seu empenho para cumprir a vontade de Deus Pai. Porém o charco dificultava nossa movimentação e o avanço da infantaria se tornava cada vez mais vagaroso. E ele o Rei da Pérsia estava ali parado, estagnado no meio de todo aquele caos, apenas observando os movimentos de Gabriel.

Depois de nos recuperarmos e sairmos do cerco de pedra, nosso caminho estava quase desimpedido se não fosse pela potestade que tentava bloquear nosso caminho. Tentamos nos dividir para ganhar terreno e atacar de todos os lados. Assim a destruiríamos facilmente. Esse foi nosso erro!

Nessa hora foi que ela se dividiu e tentáculos foram desenrolados sei lá de onde, e ela nos atacou com toda sua fúria, foi então que percebemos seu plano: a divisão nos havia enfraquecido. Mas ela não contava que houvesse alguém experiente ali. Antes de ser atacado, me uni à pelo menos mais dois de meus amigos, isso fez com que seu tentáculo não se prendesse a nós com a força necessária para nos esmagar. E com habilidade, deixei meu braço fora dessa. (claro que foi o braço da espada). Ataquei o tentáculo e nos soltei enquanto os outros já corriam para ajudar os que ainda se viam presos. A potestade ficou desnorteada com nossa estratégia e nos unimos para fazer um ataque fatal.

Perdemos muito tempo com a potestade e quando chegamos ao ponto que nos fora determinado, a batalha já havia se expandido o suficiente para batalharmos frente a frente.

Gabriel chegara ao charco e Baal o esperava ali. Quando Gabriel se pôs diante dele, um estrondo tamanho foi ouvido das rochas, e muitos deles e de nós caíram de dor com as mãos nos ouvidos. A massa espiritual maligna era vista em deslocamento e consumindo em trevas todos aqueles que se mantinham próximos aos dois. Uma arena estava sendo formada, Baal estava disposto a impedir a passagem de Gabriel a qualquer custo. Nesse momento pensei se Daniel receberia ou não sua resposta...

Enquanto nossa luta se desenrolava, Gabriel se concentrava em sua luta com Baal. Deu um jeito na túnica, amarrou o cabelo com uma tira de couro que pendia em seu braço, e olhou fixamente a expressão nojenta do inimigo, enquanto erguia sua espada e conjurava em nome do Deus Vivo o fogo para inflamar sua lâmina.

Baal apenas o olhava com desprezo e esperou que se preparasse por completo antes de atacar. Empunhou sua mórbida lâmina e conjurou seu próprio nome. Naquele momento tive nojo de tal prepotência.

Aqueles segundos pareciam dias, e por mais que quisesse me concentrar na guerra, sempre olhava pra o que estava acontecendo com Gabriel.

A explosão do primeiro golpe resultou num impacto que teria derrubado quase qualquer um, menos Gabriel, o choque de suas laminas resultava em pequenas explosões de luz e trevas. Gabriel é muito rápido em seus movimentos e quase não os percebia, Baal os defendia com certo esforço, mas sempre os defendia. Parecia que sabia que ataque Gabriel usaria. Isso me preocupava.

Num momento em que Baal se jogava com voracidade em cima de Gabriel, ele com esperteza lançou-se para o lado e para baixo, soltando um feixe luminoso e forte pela mão esquerda. Baal ficou desnorteado por instantes suficientes para que Gabriel fizesse um ataque em suas pernas.

Baal recebeu o golpe, mas não caiu, pelo contrario, usou o peso do próprio corpo para atacar a asa de Gabriel com sua espada amaldiçoada. Graças a Deus, o golpe não foi em cheio, porém o fogo negro de sua arma havia consumido parte significativa da asa de Gabriel. Ele caiu no chão e não teve forças para fazer quase nada, apenas gritar: — Senhor eis que conto agora com tua provisão Pai.

Então os céus se abriram e todos nós vimos um raio partir as nuvens e se chocar no chão bem entre Gabriel e Baal.

Baal foi jogado por terra e caiu a pelo menos uns dez metros do charco, derrubando alguns combatentes. Uma forma de luz angelical se formava diante de Gabriel, logo o reconhecemos, conheço aqueles pares de asas em qualquer lugar do universo!

Era Miguel. Sua voz ecoou como forte trovão e todos os inimigos caíram por terra diante do arcanjo, menos Baal. Miguel dispôs seu braço e ajudou Gabriel a se levantar, a agora com uma voz doce disse: — Estás bem amigo, o Senhor escutou teu clamor, viu tua angustia e enviou a mim para ajuda-lo nesta missão de responder a oração de Daniel, homem formoso e mui desejado.

Satanás então interrompeu a conversa dos dois e disse: — Desculpe interromper o namorico crianças, mas você me atrapalhou arcanjo maldito! Então se lançou como ameaça diante de Miguel, que permaneceu imóvel diante da afronta.

Os olhos de Miguel arderam como fogo e Baal se pôs em posição de disputa, mas Miguel calmamente disse:

—Pelo nome poderoso do Deus Vivo, é que tu és repreendido Belial, curva-te diante da presença majestosa e da Glória do Senhor teu Deus, quer você queira quer não!

Então Baal se recolheu e seus acólitos rastejaram pelo chão ao seu encontro. Uma fenda foi aberta no chão e ele se jogou nela.

Então disse Miguel a Gabriel e a nós:

— Todos, todos vocês batalharam bem, e o Senhor se honra com seus feitos. E quanto a seu dever Gabriel, vá em paz e cumpra-o, pois Daniel deve ser respondido pelo Deus Vivo.

Então se foi Gabriel levar a resposta de Deus a Daniel, e nós voltamos com Miguel à presença do Altíssimo.

>>> by Nelson Edson

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