- O que você não entende – Expliquei a Simmon numa tarde, quando nos sentamos sob o mastro da bandeira- é que os homens vivem se apaixonando pela Denna. Sabe como isso é para ela? Sabe como é cansativo? Sou um dos poucos amigos que ela tem. Não vou correr esse risco. Não vou me atirar aos pés dela. Não é isso que ela quer. Não serei um dos 100 pretendentes de olhar assustado que saem embevecidos atrás dela, feito cordeirinhos apaixonados.
- Só não consigo entender o que você vê nela – Disse Simmon, em tom cuidadoso. – Sei que ela é encantadora, fascinante e tudo mais. Só que ela me parece bastante... – hesitou-... cruel.
Balancei a cabeça.
-Ela é.
Simmon me observou com ar expectante e, por fim, disse:
- Como? Não vai defendê-la?
-Não. Cruel é uma boa palavra para ela. Mas acho que você diz “cruel” pensando em outra coisa. A Denna não é má, nem mesquinha, nem vingativa. É cruel.
Simmon passou um bom tempo calado antes de responder:
- Acho que talvez seja algumas dessas coisas, além de cruel.
O bom, sincero e gentil Simmon. Nunca se permitia dizer coisas desagradáveis sobre outra pessoa, apenas insinua-las. Até isso lhe era difícil.
Levantou os olhos para mim:
- Conversei com Sovoy, que ainda não a esqueceu. Ele a amava mesmo, sabe? Tratava-a feito uma princesa. Faria qualquer coisa por ela. Mas ela o deixou, assim mesmo, sem explicação.
-A Denna é um ser selvagem – expliquei. Como uma gama, ou uma tempestade de verão. Quando uma tempestade derruba a sua casa ou quebra uma árvore, você não diz que ela foi mesquinha. Foi cruel. Agiu de acordo com sua natureza e, infelizmente, alguma coisa saiu machucada. Com a Denna também é assim.” (Patrick Rothfuss, O Nome do Vento, Editora Sextante)
E foi praticamente assim o "final" da minha última paixão. Cruel.
Coloco final entre aspas, pois não podemos prever o futuro, e a vida já tratou de me ensinar algumas vezes a não dizer nunca, a não ser definitivo, pois as voltas que ela mesma promove, sempre nos surpreende e por muitas vezes nos faz engolir o que já tivemos a audácia de afirmar.
Mas, aproveitando duas coisas que me disseram recentemente, acho que sou capaz de entender porque tive esse entendimento, o da crueldade.
Primeiro de tudo, devo lembrar que sou um cara obstinadamente apaixonado, e isso me faz um sonhador inveterado. Alguém que se agarra a seus sonhos e gera expectativas tão fortes que o mero vislumbre da não realização, já se torna uma enorme queda.
Me disseram: "Você é ansioso, parece que esta desesperado por arrumar alguém, é como se toda chance fosse a única." & "Você precisa de alguém disponível para te amar assim como você se coloca disponível"
Olhem só!
Nada disso é inteiramente verdadeiro sobre mim, apesar de fazer grande sentido.
Quero sim alguém, sinto esse anseio, sempre fui um cara familia, carinhoso, dedicado e prestado à isso. Não tenho medo de um novo casamento, de uma nova familia, mesmo já tendo sido frustrado uma vez. Mas querer isso não me coloca em estado de desespero, só não quero mais é oba-oba, como tenho encontrado.
Há algumas semanas atrás estava no Pub e uma menina linda, me deu maior papo, tudo aconteceu certo, mas eu não queria sair com ninguem, só tinha ido lá curtir, sozinho.
Daí uma amiga me falou assim ao ver a menina saindo com outro carinha bem na minha frente. - Pô Nelson, você fez tudo e deu de bandeja pro cara, cadê a atitude!?
Sabem, não to dizendo que estou esperando o amor da minha vida aparecer e que não vou mais sair, no sentido de ficar... Vou continuar curtindo sim, mas meu coração está mais calmo, a tempestade pós separação passou, chega de noites vazias.
Imagino que ainda vou conhecer muita gente, ficar com muita gente antes de "parar", mas o que quero dizer é que meu coração não está mais nisso.
Hahaha nem sei se to me fazendo entender...
Já quanto a achar alguém disponível, isso é tão relativo...
Da última vez achei que ela era, depois descobri que nem tanto, me deixei apaixonar entendendo que esse "nem tanto" era mera questão de pouco tempo, não foi. Depois tudo revirou, virou e revirou de novo e aí eu ja estava apaixonado demais pra tentar respirar, só sabia amar.
Se eu pudesse escolher, eu iria na mais descomplicada, mas que está tão fechada, não sei se por decisão própria, ou se pelos fatos da vida... Enfim, escolher não tem graça né?
Não procuro um amor arrebatador, ou sequer um amor mágico que nos pega pelo sopé. Só quero dizer que sinto falta de alguém pra mim.
